quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Plantel só de fêmeas aumenta produtividade do tambaqui

Foto: Jefferson Cristofoletti
Técnica já utilizada na produção de diversos peixes com valor comercial está sendo estudada e adaptada para o tambaqui (Colossoma macropomum) e pode resultar em aumento significativo da produtividade da espécie. Trata-se da formação de populações monossexo com apenas fêmeas de tambaqui, já que o gênero tem a capacidade de ganhar até 20% mais peso do que os machos da espécie. O peixe é nativo da bacia Amazônica e um dos mais apreciados para consumo no Brasil.
Para formação de populações de fêmeas, é preciso atuar na definição do sexo dos peixes. Conforme a pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) e líder do projeto, Fernanda Loureiro de Almeida O'Sullivan, os peixes nascem sem sexo definido, com gônadas que não são considerados testículos nem ovários. Após um período, diferente para cada espécie, os genes naturalmente determinam se o peixe vai ser fêmea ou macho, e só a partir de então formam-se as gônadas diferenciadas: testículos nos machos e ovários nas fêmeas.
Por isso, a pesquisa vai elaborar um protocolo eficiente e seguro para definir como feminino o sexo do tambaqui, por meio da utilização do hormônio estradiol, um estrógeno natural, aplicado diretamente na ração dos peixes. "O fornecimento da ração com o estradiol tem de ser anterior à diferenciação sexual do tambaqui. Assim, mesmo que o peixe tenha os genes para formação de um testículo, é possível mudar essa informação e formar fêmeas com ovários funcionais", explica Fernanda.
População monossexo
A pesquisa para formação de população monossexo de tambaqui está na metade do caminho e vem trabalhando com três variáveis: tamanho ou idade em que os alevinos devem receber o hormônio para a reversão sexual; concentração mínima do hormônio e duração do tratamento. "A alimentação dos alevinos com a ração tratada é realizada em tanques de circulação fechada e a água desses reservatórios é manejada corretamente, devido aos resíduos gerados", observa a pesquisadora.
Nesse contexto, o planejamento do projeto contempla outras ações importantes, como as avaliações de impacto ambiental da tecnologia e a análise da existência ou não de interferência do hormônio na carne do tambaqui alimentado com a ração tratada. "Esperamos, com isso, identificar o período necessário para que o peixe esteja livre de resíduos hormonais", ressalta Fernanda.
Depois de estabelecer o protocolo, também será realizada a análise econômica da tecnologia, buscando determinar os custos do uso da inversão sexual em sistemas maiores de produção, como uma fazenda produtora de tambaqui, por exemplo. "Se a técnica der certo, se ela se provar totalmente segura e as análises econômicas forem positivas, com certeza teremos a capacidade de produzir cerca de 20% a mais de peso de tambaqui em uma mesma área de produção, resultando, consequentemente, em maior lucratividade para o produtor", destaca a pesquisadora.
A técnica de formação de lotes monossexo de peixes já é utilizada nas principais fazendas produtoras para outras espécies. No caso da tilápia, por exemplo, são formadas populações apenas com machos, que ganham mais peso e, consequentemente, geram mais lucro para os produtores.
Sistema intensivo de produção de tambaqui
O tambaqui é nativo da Amazônia. Com a demanda crescente do consumidor por esse tipo de peixe, a pesca extrativa não conseguiu atender às necessidades do mercado, o que estimulou a criação comercial da espécie em todo o território nacional (com exceção do Sul do País). Hoje, o tambaqui é a espécie de pescado mais produzida na região Norte e a segunda no Brasil, ficando atrás somente da tilápia.
A Embrapa Amazônia Ocidental lançou a tecnologia de produção intensiva de tambaqui em tanques escavados com a utilização de aeração artificial. O método permite, no mínimo, triplicar a produção em uma mesma área. O sistema foi colocado em prática na propriedade do casal de piscicultores Luis e Franci Bonfá, no Município de Rio Preto da Eva (AM) durante o período de um ano e acompanhado por uma equipe de pesquisadores da Embrapa que atuam em aquicultura. O resultado foi positivo com índices de lucratividade de 54,21% no empreendimento. Foi durante os estudos que resultaram no sistema de produção intensiva de tambaqui que se percebeu o maior ganho de peso das fêmeas da espécie. A observação deu origem à pesquisa de formação de população monossexo da espécie.

Fonte : Embrapa

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Tambaqui gigante de 44 kg é fisgado na Amazônia e chama a atenção de pesquisadores


Um tambaqui de 44 kg e 1,15m de comprimento foi capturado por um ribeirinho na região do Médio Solimões em Maraã (AM), a 635 km de Manaus. Apesar da façanha para pescador nenhum colocar defeito, o animal foi abatido por arpão há cerca de 15 dias. Já congelado, ele foi doado pela prefeitura local para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Em entrevista ao site Acritica, a bióloga do Inpa, Sidnéia Amadio, disse que não existem registros de um tambaqui desse porte no instituto. Depois de passar por estudos, o peixe será preparado com formol e será exposto em breve para visitantes. “Este peixe está sendo noticiado em todo o Estado”, comenta o professor universitário amazonense Rivelino Soares de Freitas.
Segundo Sidnéia, o tambaqui chegou a esse tamanho por ter encontrado um local de refúgio, sem a ameaça de arpões e redes. “As áreas de refúgio são muito importantes para o crescimento dos peixes”, destaca a bióloga.  A pesquisadora calcula que o peixe tinha entre 12 e 15 anos de vida.
O tambaqui é um peixe endêmico da bacia Amazônica, sendo uma das espécies mais desejadas pelos pescadores por sua forte briga e sua farta carne, com pouca espinha e de excelente sabor. É um peixe também conhecido como “redondo”, que cresce rapidamente e é onívoro, ou seja, come praticamente de tudo: frutas, sementes, folhas, plâncton, insetos e outros elementos que caem na água.
Publicado em 11/08/2010 por Lielson Tiozzo
Obs: Achei bastante interessante essa matéria , mesmo sendo de 2010,  pois isso é algo que não ocorre todo os dias,além de despertar nossa curiosidade. Imagine, esse tambaqui foi encontrado com 44kg e 1,15m de comprimento pois viveu livremente nas águas do solimões e temos a certeza de que ele não é o único . Quantas surpresas os rios da Amazônia ainda podem nos revelar ? Ninguém sabe. 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

                                    A Importância da Engenharia de Pesca para a Amazônia



As regiões geográficas brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul) foram colonizadas e desenvolvidas historicamente de modo muito diverso. A Região Norte (Amazônica) - legalmente incluindo territórios de cinco países (Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela) - apresenta lógicas diferentes de produção, competição, assalariamento, consumo e de formação intelectual, todas, no entanto, ligadas por apenas duas línguas, de alegre identidade cultural, e poderes políticos que, embora diversos, se mostram atualmente capazes de costurar pactos entre as elites oligárquicas, no sentido da manutenção da unidade regional. Em verdade, somos muito diversos e qualquer política de desenvolvimento científico-tecnológico deve levar em conta esse aspecto.
Os problemas socioeconômicos das Regiões Norte ou Nordeste não são exclusivos. São problemas do País e as lideranças políticas, econômicas e intelectuais precisam atuar num projeto de integração comum, como o Plano Nacional de Desenvolvimento, também chamado como Plano de Metas, que tinha o célebre lema “cinquenta anos em cinco”, democraticamente esboçado na década de 1950, por Juscelino Kubistchek. Além de premiar o mérito já instalado, é necessário induzir o surgimento do mérito em outras áreas do conhecimento, em diferentes regiões geopolíticas. Nas décadas de 1964 a 1983 (anos de governos militares no Brasil), foi esboçado um outro projeto comum, porém autoritariamente e para atender interesses, sobretudo, externos.
O projeto comum a que nos referimos necessita ser interna e democraticamente pactuado, conter projetos regionais que definam dispositivos revistos e permanentemente atualizados, como aquele apresentado pelo economista Celso Furtado, na vigência política da 1ª Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). A atualização é necessária, porque o sonho da primeira não contemplava os desafios da Ciência e da Tecnologia, que viriam impor-se, basicamente, a partir dos anos 1970, ficando o Brasil na contramão da história.
A profissão do engenheiro de pesca encontra respaldo nas prerrogativas da Lei Federal nº 5.194/66, que permitiu ao Conselho Federal da Engenharia e Agronomia - CONFEA legislar e deliberar a Resolução nº 279, em 15 de junho de 1983, regulamentando a profissão. O ofício está incluído no campo das Ciências Agrárias e dedica-se ao cultivo, captura e industrialização de pescado marinho e de água doce.
Os cursos de Graduação em Engenharia de Pesca surgiram como decorrência da pressão de mercado, em resposta ao desenvolvimento crescente da indústria pesqueira no Brasil, notadamente a partir da 2ª metade da década de 1960. O marco dessas iniciativas ocorreu em 1970, com a implantação do primeiro curso de Engenharia de Pesca na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), ao qual se juntaram mais 22 outros cursos (atualmente 23), o mais jovem deles é o do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), no Campus de Cabedelo. Os cursos têm por objetivo promover a formação técnico-científica para desenvolvimento e aplicação de métodos e técnicas de localização, captura, beneficiamento, conservação, produção, sanidade e reprodução de organismos aquáticos.
Atualmente, encontram-se representados em 15 dos 17 Estados costeiros brasileiros, com marcado e natural desequilíbrio na concentração regional: Norte (Pará e Amapá), Sul (Santa Catarina e Paraná), Sudeste (São Paulo e Espírito Santo), Nordeste (Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão). Há também representação em dois Estados interiores, ambos na Região Norte (Amazonas e Rondônia).
Segundo a Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEP-Br), estes cursos graduaram, até 2013, mais de 5 mil engenheiros de pesca, 75% deles oriundos das instituições pioneiras, como a UFRPE e a Universidade Federal do Ceará (UFC). Por sua vez, os dados oficiais de 2014, do CONFEA, apontam apenas 1.694 engenheiros de pesca registrados na entidade de classe.
A compreensão da importância da Pesca e da Aquicultura como um veículo de produção de proteína em larga escala para a sociedade, o respeito intransigente para com o defeso (período de reprodução das espécies), a importância da organização da categoria profissional em associações e sindicatos, a fiscalização rigorosa de empresas e profissionais do setor pesqueiro, o cuidadoso registro e a manutenção das marcas e patentes são desafios a serem alcançados, para a continuidade do desenvolvimento humano livre, solidário, justo, autônomo e crítico.
Enfim, a rica e deslumbrante Amazônia está aí e os profissionais da Engenharia de Pesca podem ajudar a desenvolvê-la, preservá-la e/ou conservá-la, pois detém uma relevante função socioeconômica e ambiental.

Dioniso de Souza Sampaio - Engenheiro de Pesca e professor do Instituto de Estudos Costeiros da UFPA.